
Por J.R. Guzzo (*)
O Brasil, após sete meses de governo Lula, está se transformando no maior produtor mundial de embuste político em estado bruto. Desde o dia 1º de janeiro, quando voltaram a dar as ordens, Lula e o cardume gigante de parasitas, refugiados do Código Penal e notórios perdedores de eleição que carregou com ele para Brasília conseguiram um fenômeno talvez sem precedentes na história da administração pública brasileira: não entregaram à população, nesse tempo todo, um único átomo de tudo aquilo que têm a obrigação mínima entregar. Qualquer governo marca barbante, em qualquer época ou lugar, sempre arruma alguma coisinha ou outra para dar impressão de serviço no começo do mandato — até Dilma Rousseff, para se ter uma ideia, conseguiu. Com Lula, não está dando. Está parado no mesmo lugar, como a Serra da Mantiqueira, desde que se sentou na cadeira de presidente, com seus 37 ministros e mais a nuvem de gafanhotos, incapazes e extremistas que veio junto. Não apenas não fazem nada que preste. Não fazem, sobretudo, o que prometeram — e destroem, com o rancor de fanáticos religiosos, tudo aquilo que veio do governo anterior.

Não é uma questão de ponto de vista. É a observação clínica dos fatos que são do conhecimento geral. Há um teste simples, aqui: olhe à sua volta, para qualquer direção que quiser, e veja se consegue encontrar alguma coisa, qualquer coisa, que tenha sido feita neste primeiro semestre de governo Lula e que possa ser descrita como útil. Educação? De concreto, até agora, o governo fechou as 200 escolas cívico-militares que atendiam, com excelentes resultados, a 200 mil alunos — todos de origem modesta. Cortou 330 milhões da verba federal para a educação, dois terços no ensino básico. Está sabotando a Reforma do Ensino Médio, aprovada por lei, um instrumento fundamental para melhorar um pouco a posição do Brasil como um dos piores países do mundo em ignorância escolar e capacidade de fazer cálculos simples ou de entender um texto elementar em português. “Orçamento dos Pobres”? O aumento que Lula deu para o salário mínimo foi de R$ 18 por mês. Os benefícios do vale-gás, odiado porque veio de Bolsonaro, foram cortados em R$ 260 milhões. O programa do “carrinho popular”, que aliás já acabou, não rendeu nada para um único pobre — apenas deu carros de R$ 80 mil para a classe média e um dinheirinho para as montadoras. Saúde? A única realização visível do Ministério da Saúde, até agora, foi baixar regras para a repressão ao “racismo”, à “homofobia” etc. etc. entre os funcionários da Casa. Amazônia? As queimadas, no primeiro semestre de 2023, foram maiores que no mesmo período de 2022.
Os lordes do PT, o STF e os grandes pensadores do Palácio do Planalto, como Janja, o ministro da Justiça e outros do mesmo bioma, pensam há sete meses em “desencarceramento”, aborto e liberação das drogas — em “pequenas doses”, é claro
Não é possível localizar, nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do Brasil, um palmo de novas estradas feitas pelo governo federal — rodovia, ferrovia, caminho de bicho, nada. Em compensação, impedem a aplicação da lei que ia ressuscitar a navegação de cabotagem no Brasil, um passo vital para o transporte de cargas no país. De novo, é “coisa do Bolsonaro”; tem de ser destruída. O governo não foi capaz de aumentar em 1 metro a rede de esgotos, que só atende a 50% da população brasileira. Em compensação, não deixa que entrem em funcionamento efetivo os progressos da nova Lei do Saneamento Básico. Diz, de cinco em cinco minutos, que está salvando o Brasil da violência com o fechamento dos clubes de tiro. Em compensação, até hoje não tirou sequer um estilingue do arsenal de guerra do crime organizado, ou desorganizado, ou de qualquer tipo. Ninguém encontra nenhuma medida que possa ajudar algum brasileiro de carne e osso, de forma minimamente compreensível para ele, em nada do que o governo Lula propôs de janeiro para cá. Quer a censura nas redes sociais, 40 anos de cadeia para quem “atacar” os gatos gordos da República, a cassação dos mandatos de adversários políticos e mais um monte de coisas que não enchem barriga de ninguém. Já quando se trata de tirar dinheiro do bolso do trabalhador, o governo é um fenômeno. Está arrumando no STF a volta do imposto sindical — uma extorsão grosseira do salário de quem trabalha para encher de dinheiro os proprietários dos sindicatos. Ao contrário da “isenção” para o “pobre” que Lula prometeu, seu governo exigiu que o cidadão que ganha R$ 2 mil por mês continue pagando imposto de renda. O plano de “zerar as pequenas dívidas” se transformou na emigração, do Tesouro Nacional para o cofre dos bancos, de R$ 20 bilhões, e num programa oficial de incentivo aos caloteiros.

Há uma distância cada vez maior, tipo da Terra à Lua, entre as ideias fixas, as prioridades e os projetos do governo Lula, explícitos ou imaginários, e os interesses reais do cidadão que está na fila do ônibus. Os lordes do PT, o STF e os grandes pensadores do Palácio do Planalto, como Janja, o ministro da Justiça e outros do mesmo bioma, pensam há sete meses em “desencarceramento”, aborto e liberação das drogas — em “pequenas doses”, é claro. Acham essencial a “educação sexual” nas escolas; no extermínio de verbas para o ensino básico, não se tirou nem um tostão da soma que pretendem gastar com isso, sob o disfarce de ações em prol da “saúde infantil”. Compram mais carros blindados para levar os ministros do Supremo daqui para lá. Falam em novas doações de dinheiro público para Cuba (da última vez, Lula aceitou charutos como garantia do que deveria ser um empréstimo; o Brasil até hoje não viu um centavo de pagamento, nem os charutos). Como é possível imaginar que o brasileiro que trabalha como um burro de carga para ficar vivo de um dia para outro esteja querendo que o Brasil dê dinheiro para Cuba, ou para a Venezuela, Nicarágua e outros casos perdidos da “política externa” de Lula? O presidente acusou o governo anterior de cortar a ajuda da Embrapa a Gana, como se fosse um crime contra a humanidade. E quem está ligando se a Embrapa saiu de Gana ou voltou para Gana, ou para as aulas de geopolítica de Lula sobre a Ucrânia, ou para suas viagens a Bruxelas? Lula quer dar dinheiro para a Argentina construir, segundo anuncia, o oleoduto de Vaca Muerta. E quem, além das empreiteiras e outros habitantes das sombras, está interessado em construir oleoduto na Argentina, ainda mais com o nome de Vaca Muerta? Lula continua falando no combate à “fome”, mas o Brasil tem um dos ministros mais gordos do mundo — e por aí vai a procissão, neste show de lanterna mágica onde nada, mas nada mesmo, é de verdade. É o conto do vigário em tempo integral.

É inevitável, neste mundo de farsa permanente, que os maiores projetos de ajuda ao “povo brasileiro” sejam os piores para os seus interesses objetivos. Há exemplos por toda parte, mas talvez nenhum seja tão velhaco, e tão ruinoso, quanto o que eles chamam de “políticas públicas” para a Petrobras. É o primeiro grande flagrante da volta de Lula à cena do crime, como diria o neomarxista Geraldo Alckmin. Nisso eles estão com pressa: mal completaram meio ano de governo e já estão com as quatro turbinas ligadas para fazer com a Petrobras, outra vez, as mesmíssimas coisas que fizeram nos seus 14 anos no Palácio do Planalto. Enquanto falam em “todes e todes”, abolição do dólar como meio de pagamento nas operações de comércio externo do Brasil e outras miragens, o pau está cantando na Petrobras, e cantando à toda. Querem começar tudo de novo, é claro, na funesta Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, obra-prima da incompetência lulista e uma das mais espetaculares calamidades em matéria de destruição de dinheiro público jamais vistas na história da humanidade. A refinaria deveria ter custado R$ 20 bilhões, já consumiu R$ 100 bi e ainda não está funcionando; para completar, o Brasil levou um cano gigante da Venezuela, que deveria participar da construção e sumiu do mapa sem dar um tostão furado para a Petrobras. A retomada do desastre da Abreu e Lima é, ao que parece, a primeira grande obra do governo Lula-3. É, também, um curso de mestrado em inutilidade técnica, transferência bruta de renda pública para bolsos particulares e vigarice política.
O refino de petróleo no Brasil, do qual 80% estão na mão da Petrobras, é uma charada que a empresa se recusa a resolver. As refinarias não dão conta do consumo interno — têm tecnologia incuravelmente superada, não recebem investimento e são um negócio que não tem mais a ver com as prioridades e a competência principal da empresa, que são extrair petróleo em alto-mar. A solução mais racional e eficaz seria a venda das suas refinarias para a iniciativa privada, que hoje responde por 20% do consumo nacional; elas fariam os investimentos que a empresa não faz. Mas a máquina na Petrobras não aceita isso; engoliu os 20%, mas impede as refinarias particulares de operarem num ambiente de concorrência livre e limpa. O resultado é que não há investimento nenhum, nem da estatal nem das empresas privadas, e a produção continua abaixo do consumo. Vai haver investimento com Lula, é óbvio — mas num poço sem fundo e incapaz de produzir um litro de gasolina. Quanto dinheiro do pagador de impostos vai rolar aí de novo? Outros 100 bilhões? Vai saber. Uma coisa é certa: prepare-se para ouvir Lula dizendo, durante os próximos anos, que “nunca se viu neste país o Estado investir tanto numa empresa do povo”.

O Brasil até que não estaria tão vendido se as “políticas públicas” do governo em termos de petróleo ficassem na Refinaria Abreu e Lima. O pior é a conversa de que a Petrobras, em vez de funcionar como uma empresa, de acordo com o que diz a lei, tem de servir “à população”. É mentira: a única maneira que a Petrobras tem de realmente servir aos interesses dos brasileiros, e não de quem está no governo, é entregar dividendos aos seus maiores acionistas. Eles são, justamente, esses mesmos brasileiros — e não “o Estado”. O governo Lula faz o contrário. Segura os preços dos combustíveis para fazer demagogia, como se o Brasil não tivesse, todo santo dia, de importar petróleo na cotação do mercado internacional, e acaba vendendo o seu produto por menos do que pagou para comprar. O resultado é que a Petrobras tem prejuízo a cada litro que vende — quanto mais vende, mais perde. Esse prejuízo não pode ser eliminado como “ato antidemocrático” por uma portaria do STF, nem por gritaria em reunião da UNE. Vai ser pago, até o último centavo, pelos que o governo diz que está ajudando — e, como sempre acontece com as contas que são divididas por todos, sofre mais quem ganha menos. Grande negócio para “os pobres”, não é mesmo? É o retrato perfeito do Brasil de Lula, que já arrecadou quase R$ 2 trilhões em impostos de janeiro para cá — isso mesmo, 2 trilhões — e até hoje não melhorou em rigorosamente nada a situação do brasileiro que trabalha. É o país da farsa, onde o governo inventa as realidades — e a conversa oficial deixou de fazer sentido. O ângulo reto tem menos graus que o ângulo torto. Os números primos são filhos do seu tio. Em vez de Esaú e Jacó, é Esaó e Jacu.
(*) J.R. Guzzo é jornalista. Integrante do Conselho Editorial de Oeste, foi um dos criadores da Veja, revista que dirigiu durante quinze anos, a partir de 1976, período em que sua circulação passou de 175.000 para 1 milhão de exemplares semanais. Correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Responsável pela criação da revista Exame, atualmente escreve no Estado de S. Paulo e na Gazeta do Povo.











