Mourão fala de terceira via e vê como ‘retrocesso’ retorno de Lula à disputa presidencial

O Conselho da Amazônia, coordenado pelo vice-Presidente Hamilton Mourão, tem a responsabilidade de apresentar soluções ao desafio de desenvolver e preservar a Amazônia brasileira, mantendo a soberania na região - Foto: VPR

Pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul para as eleições deste ano, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (Republicanos), fez um um panorama político e social que o país atravessa em entrevista exclusiva para o programa 45 Minutos desta segunda-feira, 11, transmitido de segunda a sexta pela rádio Mais Brasil News. O general afirma que não vê riscos de o país sofrer uma ruptura democrática além de tecer críticas ao Judiciário e ao retorno do ex-presidente Lula (PT) ao pleito deste ano.

Ao ser questionado, se o país passa por uma ruptura democrática, Mourão foi categórico em desmentir essa afirmação. “Eu não vejo no Brasil um perigo de haver uma ruptura democrática. Vejo que estamos vivendo um momento de instabilidade, não é apenas nossa, é uma polarização que ocorre no mundo inteiro e os ânimos se exaltam por problemas menores”.

Polarização

Ao falar sobre eleição 2022 e disputa presidencial, na avaliação do vice-presidente, a única chance para que a chamada “terceira via” realmente vingue é caso ocorra uma união em torno de um único nome. “Esses eleitores não estão satisfeitos com o nosso governo e nem querem o retorno do principal candidato da oposição, que é o ex-presidente Lula, gostariam de ter outra pessoa em quem votar”, observou.

Mas para isso, ressalta, seria necessário que esses partidos se despissem das suas vaidades, os candidatos que estão ali apresentados sentassem à mesa e traçassem uma estratégia, porque se não fizerem isso vão ficar brigando entre eles. “É aquele ditado ‘casa onde todo mundo briga ninguém tem razão’, então é necessário que esse pessoal una-se. Caso se unam, há espaço para representarem uma parcela significativa do eleitorado”. analisa o vice-presidente.

Porém Mourão faz um alerta: “estamos ainda no início de campanha, me arrisco a dizer que mais de 40% a 45% do eleitorado ainda não definiu em quem vai votar, ainda estão aguardando para ver o que vai acontecer. Eu vejo uma crescente do presidente Bolsonaro. Se a turma do Centro conseguir se unir, teremos três competidores disputando realmente o eleitorado caso o contrário com essa disputa entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula vai ir até o segundo turno.”

Ao comentar sobre o retorno do ex-presidente Lula ao cenário eleitoral, Mourão não vê com bons olhos e acredita que seja um retrocesso trazer alguém que já foi presidente eleito e reeleito de volta ao pleito.

“Vejo a volta do Lula como um retrocesso. Em primeiro lugar estamos regredindo vinte anos, o ex-presidente Lula já teve sua fase e mostra que todo esse tempo o PT em 20 anos não conseguiu formar uma liderança. Nós estamos indo para uma eleição com um homem que já foi presidente duas vezes do Brasil com quase 80 anos para ter que novamente se debruçar nos problemas brasileiros. É algo que tem que ser estudado, porque não conseguimos produzir uma liderança?”, questiona Mourão.

Eleições

Na entrevista, Hamilton Mourão revelou o porquê decidiu disputar uma cadeira no Senado: justamente quando percebeu que não marcharia com o presidente Bolsonaro na chapa que deve disputar a reeleição do mandato.

“A partir do momento que ocorreram indícios de que o presidente Bolsonaro escolheria outra pessoa para acompanhá-lo no projeto dele de reeleição, eu tinha que definir a minha vida. A definição seria se eu continuaria na política ou não e, ao definir continuar na política eu teria de mudar de partido. A escolha recaiu sobre o Republicanos, pelos valores do partido, pela organização do partido que eu considero um dos mais bem organizados. Então é um partido que eu me senti bem e aderi a ele e fui muito bem recebido”.

Após definir um partido para se filiar (Mourão foi eleito pelo PRTB), o vice-presidente chegou à conclusão de que a melhor alternativa seria disputar o Senado pelo seu Estado natal, o Rio Grande do Sul. “Para mim o lugar de um ex-vice-presidente é no Senado (…), então essa decisão foi tranquila de ser tomada”, afirmou.

Caso Daniel Silveira

Durante a entrevista, Mourão citou o caso do deputado federal, Daniel Silveira, do Rio de Janeiro, para defender sua tese que que os poderes estão ultrapassando os seus limites de atuação e fazer uma crítica ao Judiciário brasileiro. “Na minha opinião, existe um certo transbordamento por parte dos poderes em relação àquilo que são os limites de sua atuação, por exemplo, quando o presidente da República tem a prerrogativa de nomear fulano para determinado cargo e o Judiciário diz que não pode nomear sem fundamento naquilo. Há uma invasão daquilo que é uma prerrogativa do Poder Executivo”, analisou.

“Acho que há um certo excesso por parte do STF, porque se eu me sinto ofendido porque alguém falou determinados adjetivos impróprios a meu respeito o que eu faço: registro um boletim de ocorrência e processo o cara, acredito que o procedimento deva ser o mesmo do outro lado da Esplanada e não levar para que se fosse uma ofensa a instituição”.

O vice-presidente acrescentou que o deputado tem assegurado pela Constituição expressar suas opiniões, “mesmo que sejam as mais estapafúrdias possíveis, mas não passam disso, opinião”.

Avaliação

Ao fazer uma avaliação sobre seu trabalho durante estes mais de 3 anos de governo, Mourão ressalta a sua participação no Conselho Nacional da Amazônia e seu papel na política externa brasileira. “Há um artigo específico na Constituição que fala que compete ao vice-presidente substituir o presidente da República durante os seus afastamentos, e a receber eventuais tarefas ou missões do presidente como foi o caso do Conselho Nacional da Amazônia Legal. O vice-presidente hoje tem uma participação muito importante na questão da política externa”.

Ele cita ações concretas como reuniões internacionais e adiante que, no próximo mês, terá reuniões anteriormente agendadas, mas canceladas por conta da pandemia, com a China.

Mourão também ressalta que um papel importante exercido por ele durante o governo é de contornar os momentos críticos pelos quais enfrentou o presidente Bolsonaro. “Em momentos de tensão entre os diferentes poderes ou até mesmo dentro do próprio governo seria importante, pela minha experiência, que eu agisse no sentido de facilitar a vida do presidente e buscar baixar as tensões e impedir que incidentes pequenos se transformem em algo maior”, disse.

Conselho da Amazônia Legal

Citado anteriormente por Mourão, o Conselho Nacional da Amazônia Legal vem sofrendo criticas por falta de investimentos, o vice-presidente afirma que foi entregue um plano até 2030 que integra várias esferas do poder público.

“Entregamos um plano estratégico que vai até 2030, um plano para o período do governo Bolsonaro que termina em 31 de dezembro deste ano, que é o plano Nossa Amazônia. O plano Amazônia 21/22, que é um plano operacional especificamente para coordenar o trabalho das diferentes agências governamentais, mais Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional de Segurança no intuito de termo mais efetividade no combate as ilegalidades”.

Dentro do tema, Mourão também afirma que, “nós estabelecemos um núcleo de ações estratégicas prioritárias, voltadas para a tarefa de proteção e desenvolvimento foram deslanchadas duas operações com o apoio das forças armadas que foi a Operação Verde Brasil 2 e a Samaúma para auxiliar os órgão de fiscalização do combate às ilegalidades, como desmatamento, queimadas, uso ilegal da terra, exploração de garimpo entre outros”. “Passamos a trabalhar em um planejamento que ficasse não apenas para o nosso governo, mas para o país como um todo”.

Legado

Acerca do legado que será deixado aos brasileiros pelo governo, Mourão reflete que o atual governo foi eleito para que o país passasse por grandes reformas “para se libertar da armadilha da renda média na qual nós estamos aprisionados desde o início dos anos 80”.

“O Brasil passou de ser um país pobre, para um país de renda média e parou por aí. Com isso, a renda do brasileiro diminuiu, o PIB per capita diminuiu, apesar de ter havido um crescimento do PIB nesse período, houve também um crescimento da população, então não houve uma distribuição daquilo que o país produz para a sua população, não nos permite ainda dizer que somos um país rico”, disse.

Dentro ainda da parte do legado, Mourão citou algumas que não foram entregues, como as reformas tributária e administrativa. “Conseguimos alguns avanços na reforma da Previdência, mas não conseguimos avançar na administrativa nem na tributária apesar de estar previsto a votação da PEC 110 na CCJ, mas acho complicado de ser votada em ano eleitoral. Houve grandes avanços, mais ainda tem muita coisa a ser feita principalmente em cima das reformas estruturais”.

Militares no governo

Outro tópico abordado durante a entrevista foi sobre a participação dos militares no governo. Mourão acredita que exista uma certa desinformação de parte do público sobre o assunto. “Porque boa parte deles prestam serviço no Gabinete de Segurança Institucional e no Ministério da Defesa, óbvio que temos ministros oriundos do serviço militar. Às vezes há um certo preconceito por uma parcela pequena da população sob essa presença militar no governo e óbvio que dentro do Legislativo os que lá estão foram eleitos”.

Mourão, que é general do Exército, sai em defesa dos militares e afirma que eles são cidadãos como outro qualquer. “Então o militar que está na reserva é uma pessoa que adquiriu conhecimento ao longo da vida e que está disponível para ser contratado por uma instituição pública ou privada”, afiançou.

Mourão finaliza a entrevista fazendo um pronunciamento aos brasileiros. Confira a íntegra:

“A primeira coisa é que todo século tem sua crise, século passado viu guerras mundiais , viu a pandemia da guerra espanhola, a grande depressão, ou seja, os nossos pais e avós enfrentaram problemas bem graves. Agora cabe a nós tocar em um momento onde o mundo viveu dois anos de uma doença totalmente desconhecida que dizimou milhões de pessoas, só no Brasil mais de 650 mil pessoas morreram por conta da Covid, temos uma guerra que ninguém esperava que acontecesse, ocorrendo na Europa entre Rússia e Ucrânia. Mas o Brasil é um país gigante e precisa fazer sua tarefa de casa, que é se unir em torno do processo de reforma e entender que aqueles que tem determinados privilégios têm de abrir mão deles, para que o conjunto da Nação possa progredir de forma homogênea e entender qual é o nosso objetivo desse nosso país, é sermos uma democracia liberal e temos que lutar para construir isso”, finaliza Hamilton Mourão.

Por Ana Paula Freire/+Brasil News

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