Amazônia, conhecer para proteger e prosperar

Nelson Azevedo (*) [email protected]

Existe uma multiplicidade de manifestações, frequentemente equivocadas, a respeito das riquezas da Amazônia desde que o homem branco pisou aqui antes de Pedro Álvares Cabral. Na Europa de então, vivia-se a convicção de que aqui estava o Paraíso Perdido, embora viajantes mais recentes tenham batizado nossa terra de Inferno Verde. Paraíso ou inferno, é preciso saber por onde devemos começar para conhecer a Amazônia. Os primeiros interlocutores são as nossas etnias primitivas, os índios e as populações tradicionais, os cientistas e demais estudiosos da região. É preciso também debruçar-se sobre as experiências de quem buscou empreender no modo lucro fácil na transformação das dimensões e potencialidades da floresta na necessária prosperidade social e sustentável de nossa gente.

O que é a Bioeconomia?

A grande novidade do momento amazônico  é fazer da economia da biodiversidade a panaceia de todos os males que nos afligem. Entretanto, poucos sabem dizer precisamente o que é Bioeconomia e como é que isso funciona. Exaltar esta economia supõe alguns passos que não foram adequadamente dados. Um deles diz respeito ao próprio conhecimento e valorização das diversas fontes de saber e a compreensão de que as metodologias que servem para outros biomas, de outros climas, não necessariamente se adaptam copy-cola à nossa realidade. Basta ver o fracasso de Henry Ford na Amazônia, ou do bilionário Donald Ludwig e seu Projeto Jari. Em ambos, a ganância do lucro fácil e o descaso com a compreensão da região foram fatais aos bilhões de dólares desperdiçados.

Premissas sagradas

E o que é necessário para fazer florescer na economia da biodiversidade? Há muitas especulações, chutes e achismos sobre esta vertente, ao mesmo tempo óbvia, e desafiadora. A premissa sagrada é a exigência de que qualquer programa de desenvolvimento regional precisa compatibilizar a economia com a ecologia. São instâncias que devem sempre andar de mãos dadas na Amazônia.  A certeza absoluta de que aqui floresce 25% dos princípios genéticos da Terra, todos em processo de sofisticação biológica, precisa ser aprofundada. Portanto, não dá para ir a lugar algum sem conhecimento profundo, inter e multidisciplinar e interinstitucional da bio, geo e antropodiversidade.

O passo seguinte da evolução

Emerge como óbvia a necessidade de caçar talentos na região e fomentar pesquisas nesta direção. Os viajantes europeus que aqui chegaram a partir do Século XVII já haviam percebido isso. Alguns chegaram a coletar tantas espécies que transplantaram uma amostra da Amazônia, sua flora e fauna, para seus museus e parques europeus. Sem pagar um centavo. Temos brasileiros e amazônidas que foram conhecer o peixe boi ou as orquídeas raras do Rio Negro viajando para a Inglaterra, Holanda e França. Esses viajantes sistematizaram muitos saberes e conclusões. Uma delas, confirmada por Alfred Russel Wallace, era de que aqui está o passo seguinte da evolução da humanidade. Se a ciência conseguir como alimentar permanentemente as células do organismo humano, para que elas se multipliquem sem parar, teremos descoberto o segredo da vida. Por essas e por outras, a palavra de ordem é o conhecimento.

A crise da ganância insensata

Além do nosso imensurável banco genético, aqui temos a maior Província mineral da terra e um quinto da água potável do planeta. A água, que habita nossas matas,  quando estás são removidas predatoriamente pela insensatez humana também remove o precioso líquido. Retidos, evaporados e compartilhados com outros quadrantes do planeta, sem floresta não há como reter a água. Daí a crise hídrica do Sudeste e que nos afeta a todos, pois embora tenhamos tanta água, muitas vezes vítimas do excesso das enchentes, pagaremos   energia mais cara como sequela de nossa patologia pecuniária. Precisamos voltar ao assunto.

(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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