Projeto que ameaça protocolo de gênero é retrocesso, afirma advogada

Debate sobre perspectiva de gênero no Judiciário mobiliza juristas e especialistas - Foto: Freepik & Felipe Martins/Waype Films

A advogada amazonense Caroline Frota, especialista em Direito Penal e com atuação voltada à proteção dos direitos fundamentais, posiciona-se contra o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 89/2023. O projeto, em tramitação na Câmara dos Deputados, busca sustar a Resolução 492/23 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o que, se aprovado, poderá comprometer o uso obrigatório da perspectiva de gênero em julgamentos no Brasil.

Para Caroline Frota, a possível derrubada da resolução representa um retrocesso jurídico e institucional, ao desconsiderar desigualdades históricas e sociais que impactam diretamente o acesso das mulheres à Justiça. “Tratar igualmente quem vive realidades desiguais é perpetuar injustiças. A perspectiva de gênero busca garantir equidade, paridade e justiça efetiva nos julgamentos, principalmente em casos que envolvem violência doméstica, feminicídio, guarda de filhos, assédio ou desigualdade patrimonial”, destaca.

A Resolução 492/23 do CNJ determina que juízes e magistradas considerem fatores de gênero em suas decisões, conforme já orientado pela jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O protocolo também cumpre acordos internacionais assumidos pelo Brasil para combater a violência de gênero e proteger os direitos humanos das mulheres.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024), mais de 1.400 mulheres foram vítimas de feminicídio no país apenas no ano passado. “Num cenário tão alarmante, o mínimo que se espera é um Judiciário atento à realidade das vítimas. Julgar com perspectiva de gênero não é ativismo, é cumprir a Constituição”, ressalta a advogada.

Advogada Caroline Frota – Foto: Divulgação

Caroline Frota também reforça que o protocolo não interfere na imparcialidade dos julgamentos. “O que se busca é qualificar a análise dos fatos, considerando os contextos em que as mulheres vivem, e não favorecer um gênero em detrimento do outro. Isso é uma medida técnica e jurídica, que visa aprimorar a aplicação da lei com sensibilidade e responsabilidade”, explicou.

A proposta de sustação da resolução já preocupa entidades jurídicas, defensores de direitos humanos e especialistas em gênero. A expectativa é que o CNJ, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional reconheçam a importância do protocolo como uma ferramenta que fortalece o Estado Democrático de Direito.

Assessoria de Comunicação: Cristie Sicsú

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