2026: O ano da virada estratégica — diversificar, adensar, interiorizar e mirar o mercado externo

Por Nelson Azevedo (*)

O Amazonas encerra 2025 com uma notícia confirmada pelos dados oficiais: a economia da floresta voltou a crescer acima da média nacional. Em setembro, o estado avançou 2,56%, impulsionado pela retomada vigorosa dos setores de eletroeletrônicos, informática e logística aérea — âncoras históricas do dinamismo regional.

Indicadores de desempenho e retomada estrutural

O Índice de Atividade do Banco Central (IBCR-AM) atingiu 113,07 pontos, marcando 13% acima da média de 2022.

  • O Polo Industrial de Manaus (PIM) faturou R$ 20,07 bilhões, registrando o terceiro mês consecutivo de alta.
  • Houve destaque para o salto de 45% na produção de celulares, que voltou ao patamar de 1 milhão de unidades mensais.

Apesar da performance, o professor André Costa alerta para a desaceleração das importações (queda de 12% em outubro), que sugere cautela empresarial, mas não retração. O desempenho de setembro é visto como um “colchão” que mantém o Amazonas em terreno positivo.

O retrato completo reforça a visão do especialista Lúcio Flávio Morais de Oliveira: “O Amazonas vive um momento de retomada estrutural do seu parque fabril.” Diante desse cenário, o ano de 2026 se apresenta como o momento crucial para o salto adiante na transformação e adensamento fabril.

 A direção estratégica para 2026

A estratégia para o próximo ano deve ir além das conquistas atuais. O foco é ampliar o tabuleiro de atuação e consolidar a economia da Zona Franca de Manaus (ZFM), que não pode mais ser tratada como um arranjo voltado exclusivamente ao mercado interno.

Aberturas como o Acordo Mercosul–União Europeia e as oportunidades nos mercados asiáticos (Sudeste Asiático, Índia e Oriente Médio) criam uma chance inédita de reposicionamento industrial.

Três frentes imediatas para a diversificação são:

  • Biotecnologia de produtos amazônicos de alto valor agregado: Envolve dermocosméticos, bioativos, alimentos funcionais e insumos farmacêuticos. Estes são mercados bilionários que demandam cadeias rastreáveis e que comprovem sustentabilidade — algo que a Amazônia pode oferecer.
  • Tecnologia aplicada ao clima e à floresta: Segmentos como sensoriamento, controladores inteligentes, baterias para uso remoto, equipamentos para energia solar embarcada e drones para monitoramento. O PIM já possui o lastro eletrônico necessário para ingressar nestes nichos com velocidade e vantagem competitiva.
  • Economia da reciclagem e reuso industrial: O PIM tem potencial para liderar a reciclagem de eletroeletrônicos, plásticos de engenharia, alumínio e embalagens. Isso cria uma nova frente de negócios alinhada à demanda europeia por cadeias “verdes” certificadas e reforça a posição da ZFM como um complexo industrial de baixo carbono.

Adensar é transformar matéria-prima em inteligência industrial

O PIM ainda importa componentes que poderiam ser produzidos aqui — gerando empregos, inovação e domínio tecnológico.

  • Adensar significa: produzir placas, módulos e subconjuntos eletrônicos localmente; consolidar fornecedores regionais de sofrendo , automação e design industrial; internalizar centros de engenharia aplicados a novos materiais, baterias e IA industrial; conectar universidades e empresas em programas de inovação contínua.
  • O adensamento não é discurso: é competitividade, e competitividade é o que define quem sobreviverá no mercado global que se desenha.

Interiorizar para integrar a economia da floresta ao desenvolvimento do país

O maior erro histórico foi imaginar que o PIM é uma ilha industrial isolada. Interiorizar é romper essa ficção.

  • Significa: integrar cadeias extrativistas sustentáveis ao parque fabril; criar polos complementares de bioindústria no Médio Solimões, Juruá, Purus, Madeira e Alto Rio Negro; apoiar cooperativas e arranjos produtivos locais com tecnologia e crédito; levar energia renovável, conectividade e logística de baixo carbono às comunidades extrativistas.

Interiorizar é construir uma economia amazônica completa, e não apenas um polo urbano com funções industriais.

Inserção internacional: o salto estratégico

O Acordo Mercosul–União Europeia, apesar das divergências políticas, já redefine parâmetros. E o avanço dos mercados asiáticos terá escala para absorver muitos dos produtos que a indústria amazônica pode oferecer — se ousar.

A diplomacia industrial do Amazonas deve: construir rotas diretas para o Sudeste Asiático e Golfo Árabe; negociar certificações ambientais reconhecidas gl obalmente; criar portfólios de exportação setorial para eletrônicos verdes, bioindústria e recirculação de materiais; alinhar-se aos novos mecanismos globais de carbono e clima.

A Europa e a Ásia querem cadeias limpas, rastreáveis, éticas. A Amazônia é a única região do mundo que pode oferecer isso com legitimidade.

Portanto, 2026 precisa ser o ano da decisão

O Amazonas terminou 2025 crescendo mais do que o Brasil. Agora, precisa crescer melhor do que o Brasil.

Diversificação, adensamento, interiorização e inserção global não são jargões — são a estratégia de sobrevivência e protagonismo de uma economia que protege 97% de sua floresta, sustenta a maior universidade multicampi do país e financia, com a indústria, grande parte da infraestrutura pública regional.

A Zona Franca de Manaus nasceu com vocação industrial. A Amazônia, com vocação planetária. 2026 será o ano de unir as duas.

(*) Nelson é economista, empresário, presidente do SIMMMEM – Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e da CNI e vice-presidente da FIEAM.

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